Um museu a céu aberto

Um museu a céu aberto

betty milan
Folha de S. Paulo, Colunas e Blogs, 31 de julho 2024

 

Catedral de Notre-Dame, em Paris – Guillaume Baptiste/AFP

 

Paris venera e emoldura o passado de forma moderna. Por ser um museu a céu aberto, pode ser considerada uma cidade democrática. Também por esta razão atrai tanta gente. Todo verão são dez milhões de turistas, uma multidão que obviamente afugenta os moradores porque nada é melhor na cidade do que a vida pacata que ela ainda pode oferecer.

Uma visita de grande interesse é a da cripta arqueológica que fica no adro da Notre-Dame. Apresenta vestígios que mostram a evolução urbana da cidade. Da antiga Lutécia, é possível ver o cais do porto e banhos públicos galo-romanos que permitem imaginar todo o percurso do banhista, do vestiário ao calidarium. Também há restos da muralha do século IV, da rua Nova Notre-Dame, dos esgotos do século XIX, haussmanianos…

Na cripta a gente vê que a cidade não parou de se reconstruir sem abandonar o passado. Nisso, Paris se assemelha a outras capitais europeias e não foi por acaso que a Psicanálise surgiu na Europa. Para Freud, a rememoração é fundamental. Graças a ela é possível evitar a repetição e se curar. O presente se explica através do passado e a explicação possibilita a renovação.

O esquecimento pode ser necessário mas também pode ser contrário à vida. Isso tanto vale para o sujeito quanto para os países. Daí a importância da História, que impede de esquecer os fatos e convida a não repetir. A Psicanálise e a História como irmãs gêmeas. Duas áreas do saber que privilegiam a memória.