Platini pede trégua
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Folha de S. Paulo, 09/12/2013
Tive a sorte de encontrar Michel Platini na Bahia e entrevistá-lo sobre o futebol e a Copa de 2014. O jogador, que atualmente preside a União Europeia da Futebol Association, fez na entrevista um pedido da maior importância, que precisa ser divulgado. O texto da entrevista foi publicado na Folha de S. Paulo, mas eu o publico também aqui, na esperança de que os leitores o difundam. O Brasil merece ganhar verdadeiramente a Copa. Para tanto, como me disse Platini, ele deve deixar que a Copa aconteça como deve acontecer, ou seja, no contexto da paz social.
Há vinte anos, um tempo antes da Copa do Mundo de 1998, eu o entrevistei para um livro meu, O Pais da Bola. Nós entao falamos do estilo do futebol brasileiro. Passaram-se quinze anos. O que mudou nesse estilo?
O futebol se acelerou a partir de 1990, porque as regras mudaram. Hoje, existem bolas em torno do campo. Ninguém mais perde tempo para buscar a bola quando ela sai. Por outro lado, o goleiro não está mais autorizado a pegar com a mão a bola passada por um jogador do time dele; é obrigado a reenviá-la chutando. Com isso, o jogo ficou muito mais rápido; ele se tornou mais técnico.
Acha que é possível ainda falar de um futebol brasileiro?
Verdade que o brasileiro tende a brincar, mas o estilo se globalizou. Depende sobretudo do técnico. Antigamente, dependia sobretudo do jogador. O jogo, hoje, é função do técnico e do dinheiro. E o jogador não está mais ligado a um ou a outro clube; ele circula entre os clubes. Além disso, o estilo do jogador também é determinado pelo clima do país onde ele se encontra. Com 40 graus, no Brasil, o jogo é um. Com 5 graus, na Europa, é outro. E tem ainda a condição do campo. Num terreno úmido, a gente não joga como num terreno seco. No úmido, o risco de se machucar é menor, e a ousadia é maior. Me machuquei mais jogando na França, onde o terreno é úmido, do que na Itália, onde ele é seco.
O futebol se tornou mais duro no mundo inteiro…
Diria que ele se tornou mais rápido. Nunca foi tão bom.
O futebol ainda é portador de valores coletivos?
De valores coletivos, não, porque ele se cristalizou em torno da pessoa do jogador. Mas é portador de valores sociais, porque, atrás da equipe, existe um país inteiro, e todos os países desejam ser bem representados.
O que você espera da próxima Copa de 2014?
Se eu tiver que assistir aos jogos ladeado por seguranças, por militares, não virei ao Brasil. Prefiro assistir pela televisão. O mundo inteiro deseja que a próxima Copa seja uma grande festa do futebol brasileiro. Espero que não haja manifestações sociais durante a mesma. Que haja uma trégua para o futebol. É tão importante para os torcedores irem à Copa no Brasil quanto para os muçulmanos irem a Meca. O Brasil continua a ser o país do futebol.