O que a arte ensina de melhor
Revista Veja, 13/07/2011
Por que a arte existe desde sempre e continuará a existir ? O que ela ensina de fundamental? A resposta a esta questão pode ser encontrada na história de Edouard Manet, o inventor da modernidade pictural e o mais célebre dos recusados pelo salão oficial, o renomado Salon.
A primeira das recusas foi em 1859, quando ele se apresentou com o Consumidor de Absinto. Esta recusa inaugurou uma série de outras, entre as quais O Piquenique no Campo (1853) e Olimpia (1865), que figuram entre as suas telas mais conhecidas e só foram exibidas no Salão dos Recusados.
Para fazer O Piquenique no Campo, ele se inspirou num quadro de Tiziano, que havia representado duas musas, banhando-se perto de dois homens de fraque. Manet pôs três dos quatro personagens sentados na grama, dois homens vestidos, e, entre eles uma mulher inteiramente nua olhando o espectador, exibindo-se e convidando a olhar. Mais que isso, revelando o voyeurismo que o espectador deseja encobrir. A tela foi objeto de zombaria, injúria e cólera. Provocou um tal escândalo que o imperador Napoleão III teve que se deslocar afim de acalmar os ânimos. Tendo sido qualificada de obscena e indecente, foi retirada da exposição. Manet nunca se tomou por um mestre, porém reuniu em torno de si pintores totalmente independentes e diversos uns dos outros – os futuros impressionistas. Além de receber vários escritores no seu atelier, Baudelaire, Zola e Mallarmé, que o apoiaram com textos memoráveis.
Em 1870 o impressionismo já tinha se afirmado e Manet continuava à margem. Sua Olimpia só entrou no Museu do Luxemburgo, graças à intervenção de Monet, que defendeu a obra do amigo depois da sua morte.
A história de Manet mostra que o verdadeiro artista renuncia ao reconhecimento imediato para fazer vigorar um ponto de vista novo. Não quer fazer o que os predecessores já fizeram, insiste na originalidade. O que a arte ensina de melhor é a resistir aos imperativos do sucesso e valorizar a própria singularidade. Noutras palavras, ensina a coragem de diferir e a paciência necessária para se impor, o que não é pouco.