Nós brasileiros sem o futebol não existimos…
Carlos Pinhão (1)
Betty Milan, uma escritora brasileira que tem assim um nome aos modos inglês e italiano…, vive em Paris. Não se pode dizer que a sua apresentação não tem qualquer coisa de babélico… Escreve em português, evidentemente, e é de Paris que nos envia um livro que tem ainda mais esta particularidade linguística, é bilíngue, o texto vem em português e em inglês.
Desde logo, o título: Brasil, o país da bola ou Brasil, Football Country. O texto é uma delícia e abona a qualidade da autora, que tem outras obras de vulto publicadas: Manhas do poder (1979), O sexophuro (1981), O que é amor (1983), Isso é o país (1985), Os bastidores do Carnaval (1987).
No pórtico do livro, esta inscrição: “E se o futebol não fosse o ópio, mas a promessa da Pátria? Se ele fizesse jus à palavra Democracia, dando sentido à palavra Ética? Se o futebol, para ser brasileiro, não pudesse viver esquecido da brincadeira de bola, e o Brasil devesse brincar para ser sério?”.
É este o tom de um texto elevado, que se propõe retratar o Brasil, através do futebol, no sentido de que “o jogo pela tática reflete a nacionalidade, espelha a Nação”.
Uma frase: “Nós brasileiros sem futebol não existimos, como a Espanha não se concebe sem a tourada.”
Outra: “Somos campeões na paixão despertada pela bola, que bem pode ser dita a nossa primeira-dama”.
Mais uma: “No espaço do jogo, a palavra lei faz sentido e a sua ética vigora. O futebol é a experiência da democracia e só por isso já poderia nos servir de modelo”.
Como se depreende, trata-se de uma obra séria, um estudo aprofundado, que tem a chancela da Biblioteca Eucatex de Cultura Brasileira e da Best Editora. E ainda fotografias em cores e em preto e branco.
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1. Carlos Pinhão (1924-1993) foi jornalista desportivo desde o início da carreira, em 1944, tendo sido também correspondente de publicações da Espanha, França e Bélgica. Além disso, escreveu crônicas e literatura infanto-juvenil. Jornal A Bola, Lisboa, 28/04/1990.