A subversão das Olimpíadas

A subversão das Olimpíadas

betty milan
Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 29 de julho 2024

 

Celine Dion canta no encerramento da cerimônia – Anushree Fadnavis/Reuters

 

A abertura dos Jogos Olímpicos em Paris valeu pelo espetáculo, mas sobretudo pela mensagem que passou. Os Jogos têm uma história que remonta à Grécia Antiga —776 a.C., em Olímpia. Foram instituídos em homenagem aos deuses: tratava-se de uma forma de culto, e a vitória era considerada uma honra divina. No início, havia apenas uma corrida a pé. Ao longo dos anos, novas modalidades foram incluídas —corridas de longa distância, lançamento de dardo e luta. Eram muito mais do que uma competição esportiva, representavam a paz entre as cidades gregas, que interrompiam a guerra para participar. Além de simbolizar a união dos povos, o evento valorizava a busca pela excelência, incitava à superação e preconizava o fair play.

A origem dos Jogos Olímpicos, na nossa era, data de 1896, quando foram realizados em Atenas. A ideia de organizá-los se deve a um francês, o Barão de Coubertin, o pai da Olimpíada Moderna, que promove a união entre as nações e a inclusão social através da competição.

A realização das Olimpíadas é disputada pelos países porque traz benefícios para as cidades-sedes. Entre eles, a promoção da cultura e das tradições. A fim de se beneficiar, a França reinventou a abertura. Não abriu os Jogos no contexto fechado de um estádio —pessoas sentadas olhando os atletas desfilar—, mas no centro de Paris. Atravessou a fronteira do estádio para fazer dos jogos uma atividade de outra natureza.

As diferentes delegações desfilaram navegando pelo Sena, onde Paris se originou. Nessa viagem, os monumentos históricos foram aparecendo um a um, a grande beleza foi sendo descortinada. Por causa dela, Paris não foi bombardeada durante a Segunda Guerra. A beleza freia a violência, e é disso que nós mais precisamos.