A mãe, nua e crua

A mãe, nua e crua

 

em culpa e segredo.

Neste livro, é a ousadia que vigora. Partícipe Herdeiras da Revolução Sexual, elas aprenderam a reconhecer e exercer seu desejo, mas ainda se debatem entre modelos de maternidade. A mãe santa, puro sacrifício pelo filho. A boa mãe, que tudo aceita e nada limita. A mãe nula, que se anula e perde tudo o que foi conquistado pelas mulheres na sociedade. Ou a que insiste na liberdade sexual, mas vive envolta da Revolução Sexual e de outras revoluções políticas e comportamentais contemporâneas, a autora vive as conquistas das mulheres e recusa a pressão social que pretende fechar a mãe numa clausura. Sua Carta ao filho é uma reflexão séria e profunda sobre a condição materna neste século, desde os prazeres da Madona com seu rebento no seio, até as dores da entrega do filho ao mundo, passando, é claro, pelos desafios da formação do filho pelos pais.

Nessa trajetória, as teorias não têm vez. É do vivido que saem as descobertas. Que não existe modelo de maternidade, por exemplo, pois, se o filho é um, também a mãe tem de ser uma – e mesmo uma diferente com cada filho. Que da escuta do filho depende a conduta adequada da mãe na relação dos dois. Até a doída surpresa do momento em que o filho diz da namorada “Ela é a mulher da minha vida, mãe”, e esta se pergunta: “E eu?”.

Tudo o que palpita na sociedade e no inconsciente está na pauta da vida e da literatura de Betty Milan, médica, psicanalista, escritora que se expressa no romance e no teatro por meio da autoficção. Nesta Carta ao filho, sua incursão chega a um axioma libertador: para ser boa mãe, não há regra nenhuma, apenas a escuta do filho. Ou seja, ninguém ensina a ser mãe.

Livre do tabu de que a mãe tem de ser infalível, Betty Milan comunica às mães essa libertação.

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Mirian Paglia, jornalista e escritora. Autora de Colar de Maravilhas, livro de poesias e Notícias de um lugar comum.