Ficção biográfica – Maria Belo

Ficção biográfica

Maria Belo

 

 

 

Betty Milan, mãe, psicanalista e escritora, publica em Lisboa o seu último livro, A Mãe Eterna.

Das suas mui numerosas publicações, relembro O papagaio e o doutor, Consolação e Carta ao Filho. São, como já foi dito por outros, textos de ficção biográfica (como os de todos os escritores ainda que de outra forma). Ainda que textos muito claramente de auto-análise, são textos de transmissão de uma experiência de vida da forma mais erudita e popular simultaneamente. Em O Papagaio e o Doutor, Betty Milan faz dialogar a cultura, a racionalidade e a sofisticação francesas –que Lacan significa– e o brincar brasileiro. Em Consolação, Carta ao Filho e em A Mae Eterna, agora  publicado entre nós, trata-se de uma reflexão profunda sobre a vida e a morte através de três personagens reais da sua vida: o filho que deu à luz e que fez crescer, o primeiro marido que morre dolorosamente e a mãe com as questões que a grande idade traz consigo. Cinco livros que só são difíceis de ler por eventualmente obrigaram a pensar em coisas de que habitualmente não se fala, antes se recalca.

É essa a característica mais forte de Betty Milan: não só a coragem, mas o ímpeto de tratar da forma mais simples o obscuro da vida em si. E em cada um de nós. Sem ceder nesse ímpeto.

Falta acrescentar que é sobretudo como grande escritora que a psicanalista constrói a sua herança.

 

 

Maria Belo – entre várias atividades profissionais, foi deputada no Parlamento Europeu e é psicanalista co-fundadora do Centro Português de Psicanálise.