Uma brasileira no Parlamento Internacional dos Escritores

 

Em 1989, Salman Rushdie, já consagrado como escritor, publica Os versos satânicos. Sob o pretexto de que nesse livro ele blasfemou contra o Islã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do Irã, o condena à morte em fevereiro de 1989.

Quem leu o romance sabe que Rushdie trata a modernidade ocidental com o maior ceticismo e mostra como os textos sagrados do Islã são aviltados pela televisão e pela publicidade. Mas isso não inocentou Rushdie diante do espírito teocrático fundamentalista, para o qual abordar os textos sagrados num romance é pior do que qualquer ataque direto – precisamente porque, sendo contrário à afirmação de uma verdade única, o romance não permite àquele espírito se defender.

Depois da condenação de Rushdie, que por isso foi obrigado a viver longos anos na clandestinidade, vários escritores são assassinados na Argélia, também por seus textos e pronunciamentos serem considerados profanadores da fé muçulmana

Em face desses crimes, um grupo de meia centena de escritores e intelectuais europeus e americanos, apoiando-se numa ideia do sociólogo francês Pierre Bourdieu, propõe a fundação de um organismo para a defesa da liberdade artística e de expressão e para dar apoio aos escritores perseguidos em seus países.

O apelo, enviado a mais de duzentos escritores do mundo inteiro, foi aceito unanimemente, nascendo então, em novembro de 1993, o Parlamento Internacional dos Escritores, que reivindica a autonomia da literatura em relação aos diferentes poderes e insiste na necessidade de uma estrutura capaz de organizar um movimento de solidariedade internacional, o grupo funda, ainda em novembro de 1993.

 


 

Participação de Betty Milan

 

Em 1994, Betty Milan foi a Lisboa cobrir a reunião do Parlamento como enviada especial do jornal Folha de S. Paulo. Dois anos depois, representou a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo no I Congresso das Cidades-Refúgios em Estrasburgo, França. Em abril de 1997, participou do II Congresso a convite da organização do evento.

Em setembro do mesmo ano, apresentou o projeto do Parlamento na 7ª Jornada de Literatura de Passo Fundo (RS), convencendo as autoridades aí presentes a fazerem de Passo Fundo a primeira cidade-refúgio do Brasil para escritores perseguidos ou ameaçados em seus países de origem (fotos).

O Parlamento fez do texto “Declaração de Independência”, de Salman Rushdie, sua carta de princípios. Quando completou dez anos, em 2003, o Parlamento Internacional dos Escritores foi autodissolvido.

 


 

Artigos

 

  Parlamento Internacional dos Escritores. Coletânea 1994.
(Agrega os artigos “A multinacional crítica”, Folha de S. Paulo, 9/10/1994, “Lisboa recebe o Parlamento dos Escritores”, Folha de S. Paulo, 25/09/1994, “Parlamento de escritores”, Folha de S. Paulo, 25/12/1993. A força da palavra)

  Lisboa recebe o Parlamento dos Escritores. Folha de S. Paulo, Livros, p. 6-13, 5/09/1994.

  Escritor Wole Soyinka deixa a Nigéria e chega a Paris. Folha de S. Paulo, Ilustrada, p. 5-2, 23/11/1994.

  A multinacional crítica. Folha de S. Paulo, Mais! p. 6-3, 9/10/1994.

  A rede de proteção cosmopolita. Folha de S. Paulo, Mais!, p. 5-13, 7/04/1996.

  Salman Rushdie na Europa de Le Pen. Folha de S. Paulo, Tendências/Debates, p. 3, 10/04/1997.

  Brasil pode asilar escritores perseguidos. Folha de S. Paulo, Ilustrada, p. 4-9, 4/10/1997.