O Doutor me vendo sonhou, com fome de Pantagruel. Quem ia bancar o sonho obviamente era eu. Bem verdade que só poderia entregar o equivalente a vários cachos de banana de ouro maciço, porque no passado os meus fizeram de si burros de carga, cem quilos na cacunda até o sangue e o pus, mascateando de sol a sol e de porta em porta. Isso claro eu não ia dizer ao grande homem. Cartão de visita? Ora, omitir simplesmente a história dos que largaram do Cedro para fazer a América, a saga dos avós, os “turcos” de Açu, também ditos come-gente, os que na França teriam sido apenas arabes entre os arabes.
resumo
O Papagaio e o Doutor é um romance sobre os “turcos” do Brasil. A história é narrada por uma descendente deles, Seriema, que foi à França fazer sua análise com um renomado Doutor – inspirado por Jacques Lacan.
Rememorando a análise e o passado dos imigrantes, ela se liberta do Doutor e dos ancestrais para se tornar quem ela deseja ser, cultivar a língua brasileira ou a língua do ão, em que ela sonha.
Pela irreverência, Seriema evoca a Emília de Monteiro Lobato e o herói sem caráter de Macunaíma, de Mario de Andrade. Como Emília, ela diz o que pensa. Como Macunaíma, faz pouco do sentimento de culpa. Ri de si mesma e dos outros para se libertar. Só que, à diferença de Macunaíma, ela não morre no fim do romance, não vira estrela, sai de cena gostando de ser brasileira, mestiça e mulher.
Como diz no posfácio a escritora francesa Michèle Sarde, biógrafa de Marguerite Yourcenar, a história pode ser assim sintetizada: “Seriema vai procurar sua alma na capital do espírito e aí descobre que ela se encontra no seu país de origem e que o espírito paira em todo lugar”.
leitura dramática
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histórico
Publicado pela primeira vez no Brasil em 1991 pela Editora Siciliano e lançado na Livraria Siciliano em 3/07/1991. Em 1997, o livro foi publicado na França pela Editions de l’Aube e lançado na Embaixada Brasileira e na Maison de l’Amérique Latine. A tradução francesa levou a autora a reescrever o texto em português. Assim, a versão definitiva foi editada pela Record, em 1998, e lançada na Livraria Cultura em 4/03/1998. Além de ter sido publicado em francês, foi traduzido para o espanhol e publicado na Argentina pela Homo Sapiens no mesmo ano de 1998 (fotos e cartazes). Os direitos para adaptação cinematográfica do filme foram comprados em 2019 pelo diretor americano Richard Ledes. A filmagem já foi feita com o ator David Patrick Linch, no papel de Lacan e Ismenia Mendes, no papel de Seriema.
BRASIL
“Escreve como quem muda os dormentes nos trilhos da ferrovia para novo curso do trem acordado. Já pensou? Melado de uva.” José Celso Martinez Correa, Folha de S. Paulo, 7/09/1991
“Li o livro deliciando-me em vários planos: no ficcional, no documental e no plano do depoimento pessoal.” Moacyr Scliar, novembro de 1991
“Me diverti com o seu Papagaio louro e com seu Doutor. Com a Seriema, com tantas voltas e tantos volteios sempre muito bem escritos.” Otto Lara Resende, carta de 17/03/1992
“Com este romance, Betty Milan dá um toque sutil de modernidade em nossa prosa de ficção, ainda muito afeita ao documental (…) levando o brasileiro a se contemplar no espelho do mundo, e não apenas nos limites do nosso terceiro mundo.” Deonísio da Silva, O Globo, 7/03/1998
FRANÇA
“A história, dada a simplicidade que emerge de toda obra forte, pode ser sintetizada numa única proposição: Seriema vai procurar sua alma na capital do espírito e aí descobre que ela se encontra no seu país de origem e o espírito paira em todo lugar.” Michèle Sarde, prefácio do livro
ARGENTINA
“O livro O Papagaio e o Doutor é o testemunho de que é possível desligar-se do maktub para escrever uma história mais pessoal.” Jose Manuel Ramirez, 4/05/2000
BÉLGICA
“Seriema retoma com uma força incrível o destino de Don Quixote. O dia em que ele renuncia ao seu sonho, morre. O dia em que ela faz o mesmo, morre, mas para viver verdadeiramente. Nesse sentido, O Papagaio e o Doutor é um romance que faz bem à alma.” Pierre Maury, Le Soir, 18/03/1997
PORTUGAL
“Um livro muito inteligente, muito engraçado, muito teórico e muito bem escrito, que me deu prazer do começo ao fim, prazer e vontade de dialogar.” Eduardo Prado Coelho, 22/04/1997
área de interesse
Literatura, Psicologia clínica e Psicanálise, por focalizar o desejo feminino.